Balangandãs - Pencas de Balangandãs
Foto: Roberto Cattani - (Museu Carlos Costa Pinto - Salvador)
Foto: Roberto Cattani -
(Museu Carlos Costa Pinto - Salvador)
- Châtelaine -
Foto: Roberto Cattani -
(Museu Carlos Costa Pinto - Salvador)
- Châtelaine -
Foto: Roberto Cattani - (Museu Carlos Costa Pinto - Salvador)
Foto: Roberto Cattani - (Museu Carlos Costa Pinto - Salvador)
Dentre os artefatos de uso pessoal, as pencas de balangandãs ocupam posição destacada devido à sua singularidade. Apesar de suas semelhanças com o châtelaine francês e com molhos de objetos utilizados por mulheres nômades na África islamizada, a penca , como conhecemos, é uma exclusivamente brasileira. Foi amplamente utilizada na Bahia e também em menor quantidade, no Rio de Janeiro. Usadas na cintura, área de forte significado ritual religioso por ser a zona que marca a fertilidade, presas por correntes, funcionavam como amuletos protegendo contra diversas mazelas e perigos, ampliando o caráter de proteção destinado às relíquias. (...)
O châtelaine era o molho de chaves preso à cintura das donas das casas francesas, que se tornou habitual no Brasil até o início do século XX. Símbolo do poder doméstico, as chaves guardavam os tesouros da casa: joias, enxovais, a prataria, porcelanas e cristais eram mantidos trancados em armários, dispensas, arcas, cofres e outros tantos esconderijos. O molho dessas chaves era sempre mantido junto a cintura da “sinhá”, preso por uma argola, por questões de praticidade e segurança. Com o passar o tempo, agregaram-se outros objetos ao molho, como relógios, pequenas tesouras e toda a sorte de pequenos utensílios de uso cotidiano, além, é claro, de objetos devocionais como medalha e santos.
Teria sido o deslumbramento causado pelos châtelaine, signo do poder da senhora branca, somado ao hábito africano de se amarrarem talismã na cintura, a origem da penca de balangandãs? Bem, se sabe que as chaves estão presentes entre os amuletos. Mas as escravas possuíam nas residências senhoriais apenas seus quartos e pouquíssimas peças de mobiliário, e, assim, poucas chaves. Havia também o apreço pelos berloques e a referência à ferramenta de Ogum, e esses fatores conjugados podem ter levado à penca de balangandãs, tão popular no século XIX. (...)
Balangandãs ou Berloque: o nome “balangandã” faz referência ao barulho produzido pelo movimento dos berloques acumulados nas naves, e sua grafia pode variar de autor para autor, podendo também aparecer como barangandã, balangandan, berenguendén ou mesmo belenguendén. São inúmeros os tipos de balangandãs. Entretanto alguns deles se repetem e são importantes para o imaginário religioso. Cada balangandã em uma penca possui seu próprio significado, e cada agrupamento de balangandãs é único, marcando fatos da vida, servindo como talismã e objetos de devoção.
Os balangandãs, dentro da interpretação antropológica de sua simbologia, assumem diversos significados, sempre em referência direta a quem os possui ou usa a penca. Além de diferirem nas figuras. Segundo frei Eliseu Vieira Guedes, os balangandãs também podem diferir de acordo com seus motivos, que podem ser místicos, relativos a objetos do culto religioso negro (tambores, gaitas, orixás, etc.) ou católico (cruzes, imagens de santos, etc.); supersticiosos (figas, sino, samão, dentes de animais, ferraduras, etc.); mnemônicos (um pezinho, em rememoração de uma torção no pé; uma orelha, por ter sido ferido na orelha, etc.); ou mesmo lúdicos (uma flor, uma bola, uma canoa, etc.)
Fonte: Cunha, Laura & Milz,Thomas. Jóias de Crioula /
Jewelry of the Brasilian. São Paulo, Ed. Terceiro Nome,2011